Este post não é uma receita, embora eu gostasse de a ter.
Os rebuçados
Diamante fazem parte da minha infância. Não só da minha, mas também daqueles que fizeram da minha infância um tempo maravilhoso de descobertas.
Na altura não havia telemóveis, nem sequer máquinas fotográficas digitais. Não existiam PS I, nem II, nem III, nem PSP. Havia jogos para o
Spectrum 48K que tinham de ser lidos num leitor de cassetes ao lado e fazer
load por um cabo ligado ao computador. A ASAE ainda não se interessava pela falsificação e direitos de autor, pelo que comprávamos e trocávamos cassetes com estes jogos por todo o país (tínhamos a lista de jogos de cada um e pedíamos pelo correio as gravações enviando em troca uma cassete virgem).
Jogávamos descontraidamente às escondidas, na rua, até o Sol se por. Tínhamos clubes, onde proclamávamos a amizade e até nos defendíamos de outros amigos que por vezes eram os "nossos inimigos". Os nossos pais sabiam onde estávamos e tínhamos toda a liberdade para nos deslocarmos na vila.
Lanchávamos em casa uns dos outros, estes lanches foram o início do meu gosto pela culinária. Até há bem pouco tempo, antes da pintura, o tecto da cozinha da minha mãe guardava a marca da viragem de uma panqueca atirada ao ar e que subitamente se colou (por pouco tempo) ao tecto, num desses lanches com a minha vizinha (
vecino, lol) Nice, depois de chegarmos da escola.
Na TV, os desenhos animados eram inocentes:
Fábulas da Floresta Verde,
Bocas,
Candy Candy,
Ana dos Cabelos Ruivos,
Tom Sawyer,
Calimero e as fabulosas, imperdíveis e inigualáveis
Maravilhosas Cidades de Ouro. O programa
Agora Escolha, na RTP2, apresentado pela loira simpática Vera Roquette, fazia as delícias de qualquer um e era sempre visto a seguir ao almoço antes de irmos para a praia.
O Verão Azul,
3 Duques,
Barco do Amor,
Justiceiro,
MacGyver e as nacionais:
Duarte e Companhia e
Gente Fina é Outra Coisa eram séries, que se repetiam neste programa onde se escolhia a série por votação telefónica.
Nesta altura também havia outras delícias - os rebuçados de luxo
Diamante da Heller, juntamente com as pastilhas
Gorila, principalmente as
SuperGorila, grandes, enchiam a boca e nós promovíamos concursos, de quem conseguia mascar todas as 5 pastilhas do pacote. Os chocolates Regina, da Fábrica de Chocolates Regina, eram outra perdição, desde os simples triângulos de amêndoas, ao
Coma Com Pão, passando pelos aromatizados de fruta com padrão quadriculado, finos ou em barra bem grossa ou as
Sombrinhas de chocolate. E os furinhos Regina, dávamos uma moeda, espetávamos um prego num furo e saia a bolinha colorida que depois era desvendada num dos chocolates Regina (o melhor era o grande, de leite de papel amarelo) que constava da placa vermelha de platex perfurado pendurada nas paredes das lojas. Os rebuçados de
Noivos também da Regina, brancos com um bocadinho de chocolate no centro... os
Flocos de Neve da Vieira de Castro, brancos como a neve (por levarem dióxido de titânio, tal como as tintas e tantas outras coisas) em papel transparente vermelho, que era usado, enquanto chupávamos o rebuçado, para olhar através dele e ver a paisagem noutro tom [Não aceitem imitações, são Flocos e não
Bolas de Neve]. Os
Caramelos de Fruta da Penha, ainda hoje óptimos, na altura eram diversão porque tatuávamos nas costas das mãos os frutos do papel, com a ajuda dos dentes (doidices).
Estas memórias não se perderam nem irão perder-se em quem as vivenciou.
Estes anos 80 foram efervescentes de tanta energia, alegria e sobretudo amizades que nunca mais se esquecerão.
Agradeço a todos os que me puderam dar esta infância privilegiada.
Será que daqui a 20 anos os jovens de hoje estarão a fazer comentários saudosos daquilo que vivenciam? Contacto diariamente com a juventude de hoje e muitos dos princípios que nos regiam estão descurados. São outros os princípios. Temos de culpar alguém? Não, acho que não, mas se o quisermos fazer, provavelmente seremos nós próprios que, na ânsia desmesurada de tentar dar tudo o que é novidade, mostrar e ensinar, nos estamos a atropelar.
Nos últimos tempos, agora na geração dos DVD's, têm sido editadas muitas das séries referidas (excepção feita, como muita pena minha, que seria o primeiro a fazer fila para comprar as
Maravilhosas Cidades do Ouro - há em DVD na versão original francesa, sem legendas) bem como reproduzidos os chocolates Regina (a empresa
Imperial dos chocolates
Jubileu, Pintarolas, Fantasia de Natal e
caramelos
Allegro - pertença do grupo RAR dos açúcares - adquiriu a marca Regina, mas não a qualidade, peço desculpa mas sou sincero - aproveitaram-se da marca conceituada, mas agora a qualidade não faz jus à marca, hoje também há amêndoas Regina que na altura não havia), as pastilhas
Gorila e... os rebuçados
Diamante, que há anos estavam desaparecidos do nosso mercado.
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Estes rebuçados achatados, redondos ou ovalados com papel transparente e marca Heller numa bola vermelha, eram de compra obrigatória, ou na Pastelaria Ferreira ou no Minimercado da D. Olinda (na altura Donolinda soava bem melhor), com as poucas moedas que conseguíamos encontrar ou receber dos trocos de compras e recados que fazíamos. Íamos à loja e pedíamos aquelas moedas em rebuçados
Diamante. Eram pesados, vinham num cartucho de papel pardo e não eram baratos.
Os meus preferidos eram os ovais, eram ácidos, faziam salivar
bué (que na altura ainda não se sabia o que era, lol).
São fabricados por uma
empresa madeirense, no Caniçal e por indicação da própria empresa "Desde Dezembro que estão a ser vendidos em lojas como a Makro, Recheio e Jumbo".
A semana passada uma grande amiga minha (Pimenta) conseguiu, por portas e travessas, um saco de rebuçados
Diamante Heller,
king size (para retalho) de 2.5kg!!! Fez-me uma surpresa com um
post no
blog dela.
Deu-me a maior parte dos rebuçados, que tenho vindo a degustar. Alguns sabores já não existem, lembro-me de uns de cor roxa, outros são menos ácidos.
Este post é a ela, também, dedicado.